No meio do caminho surgiu uma pequena polêmica que contribuiu para esclarecer a visão que os empresários do setor tem do mercado brasileiro. Na ânsia de justificar a disparidade dos preços de suas cervejas nos mercados americanos e franceses na comparação com o brasileiro, o Marcelo Carneiro, da Cervejaria Colorado, sugeriu que o consumidor local, entendendo o peso do "custo Brasil" sobre o produtor brasileiro, deveria sim pagar mais caro como forma de incentivar a produção nacional e auxiliá-lo a atingir um volume maior de produção. Segundo ele, quem não for solidário e compreender essa situação, que vá beber Brahma. Um empresário de sucesso se colocando como vítima do "sistema" e apelando para um velho argumento ideológico para convencer o consumidor a pagar mais caro para viabilizar a sua produção, enquanto vende suas cervejas nos EUA por um terço do preço praticado aqui. Quase ninguém engoliu as justificativas para tamanha disparidade de preços, muito menos eu. Da minha parte, nada contra a Colorado, continuarei comprando a suas cervejas quando valer a pena.
Enquanto isso, eu não parei de consumir e dar minha pequena contribuição para fazer girar a roda cervejeira. Não foi por solidariedade a nenhum produtor ou comerciante, mas apenas porque adoro beber boa cerveja. O problema é descobrir que essa a pequena contribuição deixa uma sequela bem grande no meu orçamento. Superado o receio em encarar a realidade dos números, tabulei (com o auxílio do Untappd) as cervejas que (paguei e) consumi durante o mês de abril. Foram pouco mais de 17 litros de cerveja para cerca de R$430 gastos, algo em torno de R$25 por litro. Comparando com a tabela de preço por litro que divulguei no post anterior, tem muita boa cerveja com preço inferior a R$25/L, o problema é que nem sempre o melhor preço está ao meu alcance, sem falar que também gosto de beber em bares, onde o preço é bem maior..
Uma das frases de efeito mais usada por pregadores das Revolução Cervejeira é dizer que "É um caminho sem volta". De fato, depois que acostumei a beber apenas boas cervejas no dia a dia ficou muito difícil voltar a consumir as velhas cervejas aguadas por iniciativa própria, mesmo quando o bolso aperta. Até para Heineken criei uma certa resistência, aquele gosto de fruta verde me incomoda cada vez mais. Tendo abandonado a Heineken, tive que subir um degrau para estabelecer as cervejas-base do meu consumo doméstico: a Eisenbahn 5 anos. Ótima escolha, exceto por custar o dobro da anterior. Se não bastasse, a tentação é enorme quando se gosta de tudo que é estilo de cerveja, tem sempre mais cerveja do que eu consigo experimentar. Consigo evitar diversas tentações, mas sempre acabo seduzido por algum fetiche.
Para mim está claro que beber 17 litros por mês não é muito, muito mesmo é gastar R$430 no mês com algo tão prosaico, que é beber cerveja. Minha meta para os próximos meses é, sem diminuir o volume bebido, gastar bem menos, sem esmola ou ideologia.
![]() |
fonte: http://joshchristie.hoppress.com |