sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Pale Ales e Podcasts




Como vocês já devem ter percebido, eu sou um blogueiro que segue tendências. Assim, não deve ter sido coincidência que nesse ano, apesar das implicações financeiras, eu também abracei as cervejas de menor teor alcoólico. Continuo gostando de todas as doubles, imperials e quadruppels, mas nesse ano o que eu queria mesmo beber eram as pale ales. O custo-benefício não contribui e nem sempre são as cervejas mais marcantes, mas torço para que surjam cada vez mais pale ales por aqui. Matam minha sede e fazem a noite render.
No sábado passado estive na festa de final de ano da escola cervejeiros Sinnatrah, entre as opções de chope estavam presentes duas ótimas pale ales locais: A Júpiter e a Dortmund Old Ship. Me esbaldei nelas e ficou ainda mais claro para mim como boas cervejas de teor alcoólico moderado fazem uma festa render.

Dito isso, as listas das minhas cervejas preferidas em 2013 não devem ser tão surpreendentes assim:

Top 3 cervejas brasileiras 2013:
1º - Cervejaria Júpiter American Pale Ale
2º - Serra de Três Pontas Cervejaria Artesanal / Cervejaria Prima Satt / Cervejaria Nacional Cafuza Imperial Black IPA
3º - Cervejaria e Escola Bodebrown Cacau IPA

Top 3 cervejas estrangeiras 2013:
1º - BrewDog Dead Pony Club
2º - North Coast Brewing Company Old Rasputin Russian Imperial Stout
3º - Hitachino Nest Beer Espresso Stout


Para acompanhar as listinhas e as cervejas (que preciso revisitar imediatamente), segue mais um episódio do podcast/mixtape Mostura. Nesta edição juntei uma baciada grudenta de powerpop americano. Um monte de rock que pode agradar até a vovozinha na ceia de natal. Mas fica tranquilo que o seu tio diabético não vai passar mal, é pop, mas com açúcar moderado. Se quiser conhecer o tracklist dessa e das edições anteriores do podcast, assim como assiná-lo, basta visitar http://mostura.libsyn.com/.






segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Cerveja boa e cara tá cheio, mas e por R$10?



Em 2013 surgiram novas cervejarias, novas cervejas, novas importadoras, novas lojas e novos bares (mas nem tanto). A concorrência aumentou visivelmente, mas os preços, na maioria das vezes, também aumentaram (expliquem essa, economistas). Ok, ok, eu sei que irão colocar a culpa no câmbio. Muitas das cervejas que gosto são importadas, o malte é importado, o lúpulo é importado... Não tem sido um bom ano para o bolso dos bebedores de boas cervejas. Como mostrei nesse post de maio, depois de incorporar as boas cervejas ao meu cotidiano, ficou fácil gastar mais de R$400 por mês bebendo.
Mas eis que chega o final do ano e me surpreendo com alguns preços em supermercados e em algumas "promoções", que, se não sugerem uma tendência para o futuro, ao menos mostram que é possível vender boa cerveja por menos de R$10. E nem estou me referindo a Eisenbahn, que é hors concours nesse tipo de discussão. Falo de cervejas como a Dama IPA (600ml), que, apesar de não ser uma cerveja excelente, é bem agradável (muito melhor que a Karavelle IPA) e encontrei, sem promoção nem nada, por menos de R$10 no supermercado St. Marché. Nessa faixa de preço também tenho visto nos supermercados boas lagers de grandes cervejarias européias, como a checa Bernard Celebration e a alemã Bitburger, ambas com 500ml. Será apenas uma coincidência ou uma nova tendência? Afinal, já está na hora de cervejarias locais e importadoras com alguma bala na agulha investirem no aumento do volume de produção e de importação, ajustando os preços àquele que grande parte dos consumidores estão dispostos a pagar por uma boa cerveja. Afinal, apostar apenas no marketing e na publicidade para convencer o consumidor a pagar (bem) caro por uma cerveja melhor tem limite.


chron.com

E o "Black Friday" então? Podem dizer que é preço promocional e tal, mas ninguém está dando cerveja de graça, se conseguem oferecer esses preços na promoção, eles também podem ser viáveis no dia-a-dia. Na Beer 4 U havia bastante cerveja americana por até R$10, de diferentes cervejarias, e nem todas estavam com a validade prestes a expirar. Tá certo que sempre foi possível comprar cerveja Brooklyn por esse preço, mas infelizmente, junto com as Anchor, são sempre as cervejas americanas em pior estado de conservação por essas bandas. As cervejas americanas distribuídas pela Tarantino costumam ser as que chegam aqui mais frescas, só faltava que eles distribuíssem algumas delas na mesma faixa de preço das Brooklyn. Quem sabe eles mantenham as Founders, ou até mesmo as Anderson Valley, que devem voltar em breve, na briga com as Brooklyn, como as cervejas americanas com melhor custo/benefício do mercado brasileiro? De qualquer forma, eu já me garanti para esse final de ano. Afinal, vai saber qual direção o preço das boas cervejas irá tomar em 2014...





quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Mostura - para ouvir bebendo

Imagino que, assim como eu, muitos leitores bebem mais em casa do que na rua, em bares ou restaurantes. Não sei vocês, mas no meu caso é, principalmente, para gastar menos, afinal essa brincadeira de beber cerveja boa já sai bem cara de qualquer jeito.

Quando estou bebendo lá em casa, boa música sempre faz companhia à boa cerveja. A partir de hoje publicarei aqui no Mosto Crítico seleções musicais com algumas coisas que tenho ouvido. Na maioria das vezes vai ser rock&roll mesmo, mas não espere nada manjado. Se quiser ouvir as mesma coisas de sempre, a Kiss FM e a 89 Rock estão aí para isso.
Nessa seleção, sanduichei, entre duas do Lou Reed (desculpem, mas ainda não superei), algumas músicas novas para azedar aqueles que acham que o rock morreu sei-lá-quando.

Como sou old school, essa seleção também está disponível em formato podcast (podcast de verdade, para assinar e baixar. Não precisa ouvir on-line!) no endereço http://mostura.libsyn.com/. Lá tem o tracklist e o RSS para assinar, e dentro de algumas horas estará disponível na iTunes Store também. O arquivo está no formato AAC, otimizado para iTunes e equipamentos iOS. Mas, se você é do tipo que está mais acostumado a ouvir música pela janelinha do YouTube, tudo bem: o player-janelinha vai estar sempre aqui para você.


Harmonização não é o meu forte, mas esse podcast cai melhor com uma boa cerveja, de preferência com bastante lúpulo.
Boa diversão!


 

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O estado da cerveja paulista




Já fazia um bom tempo que toda novidade cervejeira empolgante no Brasil vinha de outro estado que não o meu, São Paulo. Mas isso tem mudado nos últimos meses, ou pelo menos agora eu tenho me entusiasmado mais com as movimentações e os novos lançamentos em terras paulistas.
Algumas semanas atrás acompanhei o David Michelsohn, da Cervejaria Júpiter, em uma viagem para Serra Negra/SP, onde ele iria realizar o dry-hopping do novo lote da deliciosa Júpiter American Pale Ale, que é fabricada na Cervejaria Dortmund. Durante a viagem comentei com o David que eu havia achado muito interessante a matéria publicada na revista sãopaulo, da Folha de São Paulo, sobre o mercado de cervejas artesanais no estado. Matérias como essa têm sido publicadas aos montes, eu sei, mas o que me chamou a atenção nessa, em especial, foi que os personagens da matéria são todos novas figuras nesse mercado. Ninguém da velha guarda do mercado de "cervejas especiais" foi citado. Nada de Colorado ou Bamberg, Beltramelli ou Saorin, que costumavam ser destaque em qualquer texto da imprensa sobre o novo mercado cervejeiro. Na matéria da sãopaulo os personagens foram a Júpiter e os irmãos Michelsohn, o pessoal da cerveja Son of a Beer e o André Cancegliero, representando a Cervejaria Urbana e o Beer Experience. Todos novatos no mercado, com ideias frescas e sem caretice.



Chegamos na Dortmund depois de três horas de viagem e logo fomos apresentados ao novo mestre-cervejeiro da casa. O Fernando, que assim como o seu antecessor Victor, trabalhou na Cervejaria Nacional, tinha assumido o posto havia poucos dias mas já demonstrou total domínio da situação e estava empolgado com o hop-tea, que serviria como uma nova injeção de lúpulos frescos nas cervejas. O entusiasmo do mestre-cervejeiro vem bem a calhar, pois lá na cervejaria de Serra Negra estão sendo fabricados alguns dos novos lançamentos cervejeiros mais comentados do ano. Além da Júpiter American Pale Ale, é de lá que estão saindo a Biritis (cerveja do Mussum), a cerveja de trigo do João Gordo, além das cervejas das bandas Matanza e Korzus. Esse portfólio demonstra o quanto o Marcel, proprietário da Dortmund, está antenado as novas tendências do mercado. Ainda sobrou espaço, nesse meio tempo, para o Marcel lançar algumas cervejas com sua própria marca: a Dortmund White IPA e a Dortmund Old Ship Pale Ale. O que todas essas cervejas que saíram da cervejaria de Serra Negra tem em comum é serem representantes de um novo momento no mercado de boas cervejas. Se antes fabricar cerveja em uma pequena fábrica e tachá-la de artesanal já garantia alguma atenção, agora o mercado já amadureceu (pelo menos um pouco), e essa nova geração já sacou que o público interessado por cervejas quer receitas modernas e que é preciso dar muita atenção ao branding. Weiss e stout com raminho de cevada no rótulo não está levando nenhuma cervejaria paulista para a frente. E não é só a Dortmund que se deu conta disso, outras cervejarias de São Paulo também perceberam que apostar em jovens cervejeiros e receitas modernas pode elevar a cervejaria a um novo patamar. A Dama, de Piracicaba, já tinha percebido isso, e recentemente a Nacional perdeu mais um profissional para o interior, com a ida do Alexandre Sigolo para a Burgman de Sorocaba.

Enquanto me preparo para ir ao Beer Experience 2013, estou aqui pensando que cena cervejeira paulista atual tem dois perfis bem definidos, sobre os quais eu me posiciono claramente: Mais Júpiter e menos Karavelle, por favor.


terça-feira, 27 de agosto de 2013

Jogue mais lúpulo e chame de IPA

Quantos pints de Imperial IPA será que o indiano bebeu?


Eu gosto tanto de cerveja amarga que nunca teve uma que eu achasse amarga demais. E parece que não sou só eu! Seja no Brasil ou nos EUA, as cervejas com mais lúpulos costumam ser as preferidas dos neozitófilos, e a denominação IPA, que por muito tempo representou o estilo mais amargo de cerveja, foi alçada a ícone dessa nova geração.  Não vou perder o meu e o seu tempo recontando aquela ladainha sobre o surgimento das India Pale Ale. Mas é um fato histórico que a sigla IPA surgiu para  indicar uma cerveja com (um pouco ou muito) mais lúpulo do que as outras cervejas disponíveis no mercado. Até recentemente, o termo IPA também era garantia que a cerveja seria clara (mas não branca). Mas como imaginação não falta aos cervejeiros americanos (e aos cervejeiros brasileiros influenciados pelo jeito americano de fazer cerveja), hoje em dia qualquer tipo de cerveja pode ser transformada em IPA. Basta jogar um monte de lúpulos americanos a mais e pronto. Assim surge uma nova "Qualquer Coisa IPA".



Não me entendam mal, como escrevi no início do texto, adoro cervejas amargas e costumo gostar da maioria das IPAs, sejam elas pretas, brancas, session, imperial ou com frutas. Acho apenas que os cervejeiros poderiam guardar um pouco dessa imaginação que usaram para adicionar mais lúpulos americanos na receita e usá-la para escolher alguma nova denominação para suas cervejas lupuladas, que não use a sigla IPA.

Eu até entendo que, acima de qualquer questão linguística está a importância do marketing para as cervejarias. De nada adianta se preocupar em usar no rótulo da cerveja uma denominação de estilo coerente se isso não ajudar a vender a cerveja. A indicação do estilo da cerveja no rótulo é importante para auxiliar o consumidor a escolher qual cerveja comprar. O cara que já tomou e gostou de uma IPA quando voltar a loja vai procurar novamente pelo estilo nos rótulos das cervejas, e evidentemente espera encontrar dentro da garrafa alguma coisa semelhante ao que bebeu da vez anterior. Talvez nessa hora o significado da sigla IPA seja muito pouco relevante, desde que o consumidor tenha entendido que não se trata necessariamente de "india pale ale", mas de "mais lúpulo do que as outras".

barclayperkins.blogspot.com

Como as cervejas que levam "mais lúpulo do que as outras" , além de me agradarem bastante, fizeram sucesso e proliferaram por aí, aproveitei para fazer uma pequena pesquisa de preço, para me ajudar e ajudar aos leitores a fazerem melhores compras lupuladas. Há tantos rótulos e tipos de IPA atualmente no mercado que tive que fazer uma seleção arbitrariamente regionalizada (e levando em conta as minhas preferências pessoais, obviamente). A pesquisa de preços disponível no link a seguir elenca 20 IPAs (de vários tipos e cores), apenas entre americanas e brasileiras. A pesquisa foi realizada entre os dias 20 e 25 de agosto, em lojas de São Paulo. Para facilitar a comparação, a lista está organizada por preço por litro.

IPAs - preço por litro em São Paulo

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Os bares que eu gosto em São Paulo, mesmo sem chope



Depois da minha crítica a quase ausência de bons chopes brasileiros nos bares de São Paulo, alguns leitores deste blog tentaram contra-argumentar. Falta de boas cervejas locais e desinteresse dos cervejarias pelo mercado paulistano foram alguns dos argumentos utilizados, mas não acho que sejam argumentos que se sustentem. Se fica difícil para as micro-cervejarias enviarem seus chopes para outros estados, como é que o Boteco Colarinho, do Rio de Janeiro, consegue servir mais chopes Colorado (de Ribeirão Preto/SP) do que qualquer bar de São Paulo? Não parece que a distância tenha atrapalhado nesse caso. Será que a Colorado tem pouco interesse em vender seus chopes aqui na capital, preferindo enviá-los para o Rio? Também me parece pouco provável... Minha hipótese para a baixíssima oferta de bons chopes brasileiros nas torneiras dos bares paulistanos (tendo o Empório Alto dos Pinheiros como maior exemplo) é bem outra. O público paulistano é que está mais interessado nos chopes importados do que nos nacionais. Por que deveria o proprietário do EAP ocupar 20 torneiras do seu bar com chopes nacionais, que custam na média R$9 o copo, se ele consegue encher o seu bar de clientes dispostos a pagar no mínimo R$15 por uma taça de chope importado? Não é ele, o empresário, quem tem que se preocupar com a ideologia do "apoie a cervejaria local", isso é melhor deixar para os blogueiros. Até porque não parece que a maioria dos clientes,em São Paulo, esteja preocupada com isso. Bares especializados em chopes importados em São Paulo, são um mercado promissor. Tem até o tal de The Ale House, que mal serve uma cerveja nacional, mas tem uma carta invejável de cervejas belgas e outras importadas. Diz a "rádio boato" que bares das marcas estrangeiras Brewdog e Paulaner devem abrir em breve na cidade, enquanto isso, a única cervejaria brasileira que parece interessada nessa proposta é a Karavelle, o que vai acrescentar muito pouco, na verdade.

IPA no balcão do Boca de Ouro

As oportunidades para beber bons chopes brasileiros em São Paulo são quase nulas, mas isso não quer dizer que eu não goste de nenhum bar paulistano. Na verdade tenho dois prediletos, que frequento com certa assiduidade. Não só por serem perto da minha casa, mas também por terem, além de ótimas cervejas (nada de chope), aquilo que eu mais espero de um bar: ambiente acolhedor e personalidade.
O bar Boca de Ouro e o Empório Sagarana - Vila Madalena tem algumas características em comum, mas personalidades bem distintas. Nenhum dos dois incorre no erro bem comum dos bares daqui de negligenciar o balcão. O Sagarana tem um ótimo balcão de madeira, onde o papo com os simpáticos atendentes ou algum outro bebedor empolgado pode render umas cervejas a mais. No Boca de Ouro o balcão, de fórmica preta, é levado ainda mais a sério, afinal o bar mal tem mesas. Para beber lá é no balcão e ponto final.
A atmosfera do Sagarana - Vila Madalena se beneficia muito bem do imóvel no qual está instalado, uma antiga marcenaria, com largas portas em sequência e pé-direito alto. Dentro, o ambiente faz jus a temática proposta desde a abertura da matriz, na Vila Romana. É fácil se sentir bebendo em um velho empório perdido, situado na praça matriz que alguma pequena cidade mineira. Apenas as geladeiras high-tech e as cervejas importadas, que enfeitam as prateleiras de madeira, quebram a reminiscência de algum boteco de outrora.
No Boca de Ouro a trilha sonora é elemento central na atmosfera do bar. Soul e rock'n'roll do anos 70 também aparecem discretamente na decoração, de forma coerente, completando o ambiente semelhante a algum bar que eu nunca fui em Nova Iorque. Porém essa coerência termina no cardápio de comidas, mais compatível com o nome do lugar. No Boca de Ouro tem bolovo, rabada,torresmo e sanduíche de pernil. Dentro dessas contradições, há o bar mais legal da cidade no momento: arquitetura e trilha sonora de bar "cool", nome e comidas de "pé sujo". Isso porque eu nem falei das bebidas: além de drinks clássicos, que nunca provei, tem uma carta de cervejas resumida mas que dá conta de satisfazer, seja qual for a sua preferência.
Tem só mais uma coisa em comum entre esses dois bares que deixei para o final. Não é um programa barato ir beber cerveja nesses lugares, exceto se você se contentar com Heineken. Não consigo beber mais do que duas cervejas nesses bares sem sair com um vazio imenso na minha carteira. Mas isso também não é diferente em nenhum outro bar que eu conheça em São Paulo.


Fachada do Empório Sagarana - Vila Madalena

quinta-feira, 25 de julho de 2013

A grama de Curitiba é tão verde

Foram pouco mais de 24 horas em Curitiba, acho que eu mal arranhei a superfície da cena cervejeira local, mas foi o suficiente para eu querer voltar, LOGO! No voo de volta, ainda meio bêbado graças ao DUMDAY III, tinha me decidido por escrever um post para a seção O Mosto Legal desse blog, e gastar algumas linhas para apenas elogiar as maravilhas da cerveja curitibana. Mas, provavelmente, o texto ficaria um porre, do tipo ruim. Preferi continuar fazendo aquilo que sei fazer melhor, usar a cena de Curitiba como contraponto para escrever porque me sinto frustrado com os bares de boas cervejas em São Paulo. Afinal, a grama do vizinho é sempre mais verde.



Logo que cheguei em Curitiba, na sexta passada, fui direto à Cervejaria da Vila, um pequeno bar, com apenas dez mesas no salão principal e DOZE torneiras servindo apenas boas cervejas locais (ok, tinha uma catarinense também), no som, rock'n roll, daquele não tão gasto pela alta rodagem na KissFM. Saindo de lá, andei cerca de 1500 metros para chegar ao Hop'n Roll, que fica na mesma rua. Esse, um bar muito maior, para mais de uma centena de clientes e 28 torneiras (sendo que apenas 4 serviam cerveja importada). Se não bastasse, o Hop'n Roll também é um brewpub. Tomei uma saison bem decente fabricada ali mesmo.
A seleção de chopes servidos nestes dois bares tinha uma coisa em comum: grande maioria de cervejas paranaenses. É uma relação de mão tripla: Cervejarias paranaenses produzindo cada vez melhores cervejas, donos de bares apostando no interesse do público curitibano pelas boas cervejas da região, bebedores prestigiando as cervejas locais e saindo felizes depois de cada noite regada a pints e mais pints de cervejas fabricadas ali perto. E esses foram apenas os dois bares em que estive. Na minha pesquisa pré-viagem constavam ainda outros bares, que não tive tempo de ir: A Varanda, Barbarium e Clube do Malte. Todos com uma proposta comum: servir cervejas locais, direto do barril.  Bodebrown, Gauden, Way, Wensky: Parece que todo bom bar de Curitiba serve chopes dessas cervejarias, localizadas na região metropolitana de Curitiba

Mas, agora que já estou de volta à minha cidade natal, mas ainda maravilhado pela minha breve passagem por Curitiba, me pergunto (e pergunto aos meus leitores também) onde posso ir para ter uma experiência parecida, aqui em São Paulo?
Posso imaginar que a resposta que vem a cabeça da maioria é o Empório Alto dos Pinheiros. Há muito tempo perdi o encanto pelo EAP. Em parte porque o ambiente lá me lembra mais uma loja do que um bar, em parte porque a cozinha de lá nunca me entusiasmou. Nem as 500+ cervejas fazem diferença para mim. Um bar legal com uma boa carta de 30 cervejas provavelmente dará conta das minhas necessidades. E tem os chopes, apesar de ter 28 torneiras de chope no EAP, no dia de hoje apenas 4 servem cervejas produzidas no estado de São Paulo. A imensa maioria das torneiras está ocupada com chopes importados, que não me entusiasmam. Cerveja importada (e cara) eu compro na loja e tomo em casa, chope eu prefiro local e fresco, não algum barril que viajou milhares de quilômetros e está engatado na chopeira há semanas. Essa viagem para Curitiba deixou ainda mais claro para mim que o grande problema (e talvez a grande vantagem para o proprietário) do EAP é a falta de concorrência à altura. Os outros bares da cidade que tentaram copiar o sucesso do EAP repetiram a mesma fórmula (que não me atrai), cartas de cerveja quilométricas, com destaque para as importadas. Ambiente entre o sofisticado e a falta de personalidade. Oferecer chopes locais, frescos, acessíveis e com alguma variedade ninguém quer arriscar.
Tem também a Cervejaria Nacional, que é o bar que mais tenho frequentado em São Paulo, provavelmente até demais. O ambiente é razoavelmente agradável, a cerveja é boa e fica perto de casa. Mas para uma cidade como São Paulo ainda é muito pouco. Recentemente passei a frequentar o Boca de Ouro, um pequeno bar, em Pinheiros para variar, que tem um grande problema, é pequeno demais para dar conta de girar algumas torneiras de chope. De toda forma, o Boca de Ouro merece ser tema para outro post.





Sobre a festa de aniversário da DUM Cervejaria não tenho muito a dizer, pois não gosto de repetir o que já foi publicado em outros blogs. O DUMDAY III foi muito bem organizado, conheci gente legal e ganhei uma bela caneca de vidro (nada de pote de geléia). Não vou listar aqui o que bebi, para isso existe o Untappd, mas tinha muita cerveja boa, com destaque merecido para as cervejas dos anfitriões. A única falha foi da hamburgueria convidada para o evento. Antes mesmo das 14h o pão de hambúrguer havia acabado. Imagino que tenham apostado no fracasso da festa. Se enganaram, foi um sucesso tremendo.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

A garrafinhazinha




Eu não gosto dessas garrafinhas de 300ml (310ml para alguns). Considero o tamanho inadequado para a maioria das cervejas que as utilizam. 300ml de pale ale, porter ou lager é uma porção bem pequena e, se a cerveja for boa, insatisfatória.
Fiquei surpreso ao descobrir que a Júpiter Pale Ale, cerveja recém lançada pelo amigo David Michelsohn, também será engarrafada nesse formato diminuto. Catei a minha frustração e fui perguntar para o David: "por quê"???

A resposta dele deixou claro que ele sabe o que está fazendo. Citou uma pesquisa de mercado, que diz que as garrafas de 600ml estão em baixa e que o lance agora é 300 ou 1000. Ele também me disse que percebe nos bares a preferência dos consumidores de boas cervejas por garrafas menores, o que possibilita tomarem uma maior variedade de cervejas em uma mesma noite.
Será que sou só eu que não bebo dessa forma? Esse lance de provar um pouquinho de cada cerveja  e nunca beber direito nenhuma realmente não me atrai muito.Com todo respeito a Júpiter Pale Ale, que gosto muito, das Ways e Colorados, não considero essas "cervejas de degustação", daquelas complexas e potentes (e caras), em que alguns pequenos goles já são o suficiente para tomar os sentidos e esvaziar os bolsos. Mas esse não é bem o perfil da maioria das cervejas brasileiras engarrafadas em garrafas de 300ml.

Contra as garrafinhas tem ainda o argumento econômico: em embalagens menores o custo da embalagem é maior em relação ao preço total do produto. Estamos pagando mais vidro para menos cerveja. Sempre considerei o formato de 355ml (das latas e garrafas long neck) o menor possível para satisfazer minha sede por cerveja, mas parece que, assim como as garrafas de 600ml, é um formato em extinção. São poucas as boas cervejas engarrafadas nesse formato e pode não parecer muito grande a diferença, mas nessa transição de 355 para 300 perdemos 18% de cerveja, e não é por isso que o preço é menor. Fica ainda uma dúvida na minha cabeça: as microcervejarias preferem as garrafinhas de 300ml ou tem algo que as impeça de engarrafar em 355ml?


sexta-feira, 21 de junho de 2013

No final de semana...


Costumo frequentar sempre os mesmos bares, as mesmas lojas, os mesmos supermercados. Vez ou outra, se não for muito longe da minha casa, procuro conhecer algum novo ponto cervejeiro que abriu na cidade. Eu não fico procurando sarna para me coçar, polêmicas ou temas para esse blog. Eles surgem (e as vezes demora um pouquinho) das minhas experiências na busca por boas cervejas e boas compras. Também conto com a ajuda de alguns dos 300+ leitores do meu twitter, que de vez em quando me dão uns toques, e de diversos colegas do fórum Brejas, sempre atentos às pegadinhas que aparecem por aí. Informação relevante, preço bom, flagra cervejeiro? Me manda que eu compartilho.






No final de semana passado não fiz muita coisa, mesmo assim presenciei dois episódios que valem o relato. No sábado, eis que surge uma ótima oportunidade de comprar algumas boas cervejas americanas, que até então não estavam presentes no mercado brasileiro, e por um preço bem atraente. Lá fui eu na Almada's comprar um 6pack de boa pale ale por R$36 e experimentar uma cerveja com sementes de cânhamo. Ótimo programa para um sábado a noite! Nessa semana, o mercado paulistano foi inundado por diversas cervejas americanas que não costumam aparecer por aqui, tudo graças a uma tal de "American Craft Beer Week", evento no qual uma importadora convidou representantes de cervejarias americanas para conhecer o mercado brasileiro de perto, com a pretensão de convencê-los a vender suas cervejas no Brasil. Espero que funcione. Provavelmente preocupados em passar uma boa impressão sobre o mercado local, a importadora que trouxe esse lote especial de cervejas americanas rotulou a maioria delas com 3 meses de validade, pratica inédita por aqui, mas comum nos EUA. Dessa forma, diversas dessas cervejas aportaram por aqui beirando o final da validade. É o caso das Oskar Blues Dale's Pale Ale que havia comprado. As latas não trazem um prazo de validade, apenas a data de enlatamento: março-20-2013. O curioso é que o site Fresh Beer Only!, referência sobre datação de cervejas americanas, indica o prazo de validade de 4 meses para as Oskar Blues. Isso que é mudança de atitude por parte da importadora Tarantino!






No domingo, durante o almoço de família, apresento uma Way Beer Irish Red Ale de litrão para compartilharmos. Um tio, bebedor de vinho experiente, toma um gole da Way, faz careta e reclama: "muito amarga, não gostei". Uma reação que eu não esperaria de uma pessoa habituada a beber vinho tinto europeu. Isso me fez refletir: o bebedor de cerveja com baixa tolerância ao amargor não seria o mesmo que o bebedor de vinho com baixa tolerância aos taninos e a acidez? Pessoalmente, prefiro as cervejas amargas e os vinhos secos. Cerveja adocicada eu até aprecio, mas vinho suave é difícil de encarar. Obviamente que todos tem suas preferências, o vinho Sinuelo Suave e a Nova Schin Malzbier estão aí para provar isso, mas a meu ver, a intolerância ao amargor, a acidez e aos taninos define um paladar que ainda tem muito a amadurecer. Quem sabe eu ainda não consigo fazer o tio beber uma IPA sem careta?




Semana que vem tem a feira Brasil Brau. Espero que aconteça alguma coisa mais excitante por lá.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Será que estou bebendo demais? (Gastando demais tenho certeza que estou)

Foi muito legal a repercussão do post anterior, com a tabela comparativa do preço por litro de diversas boas cervejas que encontro a venda aqui na ZO paulistana. Muita gente me disse que passou a prestar mais atenção no preço que está pagando, no comparativo com outras similares, nacionais e importadas. Essa é a idéia! Também teve gente que considerou injusta a minha tabela. O Murilo, da Dum Cervejaria, me disse que acha injusto comparar o preço praticado pelas micro-cervejarias brasileiras com o preço das cervejas importadas, pois seriam realidades muito distintas. Para ele, as micro-cervejarias brasileiras trabalham com margens pequenas e não teriam condições de reduzi-las, enquanto isso as importadoras trabalham com margens bem maiores. Não ignoro as dificuldades dos pequenos produtores, mas entendo que todos disputam o mesmo mercado, são produtos similares e por isso devem ser comparados, de forma que fique mais claro para o consumidor a posição de cada produto dentro do mercado.

No meio do caminho surgiu uma pequena polêmica que contribuiu para esclarecer a visão que os empresários do setor tem do mercado brasileiro. Na ânsia de justificar a disparidade dos preços de suas cervejas nos mercados americanos e franceses na comparação com o brasileiro, o Marcelo Carneiro, da Cervejaria Colorado, sugeriu que o consumidor local, entendendo o peso do "custo Brasil" sobre o produtor brasileiro, deveria sim pagar mais caro como forma de incentivar a produção nacional e auxiliá-lo a atingir um volume maior de produção. Segundo ele, quem não for solidário e compreender essa situação, que vá beber Brahma. Um empresário de sucesso se colocando como vítima do "sistema" e apelando para um velho argumento ideológico para convencer o consumidor a pagar mais caro para viabilizar a sua produção, enquanto vende suas cervejas nos EUA por um terço do preço praticado aqui. Quase ninguém engoliu as justificativas para tamanha disparidade de preços, muito menos eu. Da minha parte, nada contra a Colorado, continuarei comprando a suas cervejas quando valer a pena.



Enquanto isso, eu não parei de consumir e dar minha pequena contribuição para fazer girar a roda cervejeira. Não foi por solidariedade a nenhum produtor ou comerciante, mas apenas porque adoro beber boa cerveja. O problema é descobrir que essa a pequena contribuição deixa uma sequela bem grande no meu orçamento. Superado o receio em encarar a realidade dos números, tabulei (com o auxílio do Untappd) as cervejas que (paguei e) consumi durante o mês de abril. Foram pouco mais de 17 litros de cerveja para cerca de R$430 gastos, algo em torno de R$25 por litro. Comparando com a tabela de preço por litro que divulguei no post anterior, tem muita boa cerveja com preço inferior a R$25/L, o problema é que nem sempre o melhor preço está ao meu alcance, sem falar que também gosto de beber em bares, onde o preço é bem maior..

Uma das frases de efeito mais usada por pregadores das Revolução Cervejeira é dizer que "É um caminho sem volta". De fato, depois que acostumei a beber apenas boas cervejas no dia a dia ficou muito difícil voltar a consumir as velhas cervejas aguadas por iniciativa própria, mesmo quando o bolso aperta. Até para Heineken criei uma certa resistência, aquele gosto de fruta verde me incomoda cada vez mais. Tendo abandonado a Heineken, tive que subir um degrau para estabelecer as cervejas-base do meu consumo doméstico: a Eisenbahn 5 anos. Ótima escolha, exceto por custar o dobro da anterior. Se não bastasse, a tentação é enorme quando se gosta de tudo que é estilo de cerveja, tem sempre mais cerveja do que eu consigo experimentar. Consigo evitar diversas tentações, mas sempre acabo seduzido por algum fetiche.

Para mim está claro que beber 17 litros por mês não é muito, muito mesmo é gastar R$430 no mês com algo tão prosaico, que é beber cerveja. Minha meta para os próximos meses é, sem diminuir o volume bebido, gastar bem menos, sem esmola ou ideologia.

fonte: http://joshchristie.hoppress.com

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Preço por litro é o preço real

Outro dia sugeriram que ficar divulgando preços e promoções de cerveja era algo inferior, e como blogueiro eu deveria me dedicar a análises mais profundas, também me disseram que certas comparações de preços podem ser injustas com produtores e vendedores. Discordo completamente dessas idéias. Não acho que o meu blog precise tratar do tema de maneira "aprofundada", ser consumidor de boas cervejas é algo bastante simples, e me esforço para manter afastada desse blog a minha afetação como um aficionado pela cultura da cerveja. Prefiro tratar aqui das questões do dia a dia do consumidor, que para alguns pode parecer simplório, mas para mim são essenciais. Comparar preços é uma delas. Não entendo o receio de muitos comerciantes em divulgar seus preços na internet, provavelmente é porque sabem que seus preços não estão entre os melhores.

fonte: barclayperkins.blogspot.com

Cada vez mais assuntado com a aumento dos preços das boas cervejas brasileiras em comparação com as importadas, fiz um pequeno experimento. É bem simples e até óbvio, mas que mostra de forma bem clara o posicionamento no mercado de algumas das boas cervejas mais comentadas e bebidas entre os zitófilos de São Paulo. O experimento se resume à uma planilha de preços, ordenada pelo preço por litro de cada cerveja. Como referência, usei o menor preço que encontrei para cada cerveja na região oeste de São Paulo, desconsiderei promoções temporárias ou de cervejas com data de vencimento muito próxima.


A planilha está hospedada no Google Drive, basta clicar no link abaixo:


Algumas curiosidades logo me saltaram aos olhos. Por exemplo: uma cerveja que eu achava cara, mas já nem acho tão cara assim é a Colorado Vixnu. Bem mais barata que a Way Double Pale Ale, essa sim com um preço desproporcionalmente alto.
Mas o que realmente chama atenção nessa lista é ver boas cervejas importadas com preços melhores do que as similares nacionais, mesmo que isso não seja exatamente uma novidade. Alguns bons negócios ficam evidentes nessa lista, e poderia servir de estímulo ao mercado, de investir mais em packs com descontos. Os comerciantes ganham em volume e o consumidor, um desconto atraente. Brooklyn mais barata que Way Beer? Basta comprar de 6-pack. As cervejas americanas já chegam no Brasil em pack de 6 ou 4, o que facilita para o comerciante oferecer para venda neste formato. Quando as cervejarias brasileiras irão fazer o mesmo?

Se você, como eu, consome tanta cerveja durate o mês, que já controla o seu consumo por litragem, sugiro que passe a prestar atenção no preço real que está pagando. Compare o preço que está pagando por litro nas cervejas que consome cotidianamente e faça melhores escolhas.



A minha IPA preferida eu compraria só de 6pack.

quinta-feira, 14 de março de 2013

O efeito de um presente

Na semana passada eu ganhei 6 garrafas de cerveja da rede Mr. Beer. Um diretor da empresa me ofereceu a cortesia após eu ter feito alguns comentários demonstrando a minha frustração com o alto preço das cervejas de importação exclusiva deles. Aceitei sem hesitar, não sou louco de recusar cerveja boa e de graça, e mesmo após mais algumas considerações minhas por e-mail sobre o porquê da minha antipatia pelo Mr. Beer, me enviaram mais de 3 litros de boas cervejas. Desde já expresso minha gratidão pelo presente generoso.

Cerveja, quando grátis, é sempre mais gostosa e eu acho realmente difícil avaliar uma cerveja quando não paguei por ela, pois o critério de custo/benefício é o mais relevante no meu julgamento como consumidor. Eu até tenho uma ideia do preço dessas cervejas que ganhei, mas quando não pesa no próprio bolso a aplicação do critério de custo/benefício fica mais ideológico do que factual. Todas as cervejas que vieram no presente são boas, mas sem nenhum grande destaque. Não é difícil encontrar, no mercado brasileiro, cervejas similares, melhores e mais baratas do que essas exclusivas do Mr. Beer. As cervejas que ganhei foram: Epic Hopulent IPA, Epic Copper Cone Pale Ale, Epic 825 State Stout e a Epic Brainless Belgian-Style Golden Ale, além da Tereza Pilsen Extra Hop.




Se, com esse agrado, o Mr. Beer não conseguiu com que o blogueiro falasse bem da marca e de suas cervejas, ao menos fez com que eu refletisse melhor sobre a posição que eles ocupam atualmente no mercado. Eu não tenho interesse em fazer compras no Mr. Beer, basicamente pelos preços serem entre 20% e 30% mais altos do que os que encontro por aí em outras lojas e supermercados. Imagino que grande parte dos consumidores habituais de boas cervejas também deva saber disso. De toda forma esse fato não parece afetar a saúde do negócio, já que anunciaram o faturamento de R$30 milhões em 2012, segundo o jornal Valor Econômico. A análise dessa revista sugere que os principais concorrentes do Mr. Beer são os clubes de cerveja, fica mesmo evidente que eles não se sentem ameaçados pelas tantas lojas de cervejas, físicas e on-line, que abriram nos últimos tempos, geralmente com preços bem melhores. O público do Mr. Beer é outro, com padrão de consumo bem diferente do meu. É aquele pessoal que quer comprar uma cerveja diferente de vez em quando para fazer uma graça, dar um presente ou experimentar algo diferente do habitual, conhece pouco do mercado cervejeiro, não sabe ou não se importa de pagar um preço bem acima da média e aproveita a comodidade das lojas muito bem localizadas. Tenho que ser realista e reconhecer que este perfil de consumidor de boas cervejas sempre irá existir e negócios como o Mr. Beer e os clubes de cerveja sempre terão neste público o seu filão garantido. Afinal, o mercado das boas cervejas não para de crescer e tem espaço para todos, basta trabalhar direito.





sexta-feira, 1 de março de 2013

Chope, genuinamente brasileiro

O chope (ou chopp), essa entidade cervejeira genuinamente brasileira, é alvo de muita desinformação, apropriação indevida e mau uso. Diz o wikipedia que a origem do termo remonta aos alemães, via França. O termo também é muito usado em outros países latino-americanos, como Argentina e Chile, mas é aqui no Brasil que ele foi transformado em um estilo próprio de cerveja. Existem diversas definições diferentes para o termo chope, mas neste blog ele é usado unicamente para indicar a cerveja acondicionada em barril e servida extraída por pressão ou pela força da gravidade.

Antigamente a Brahma se denominava chopp  Até hoje a Brahma se denomina chopp, mesmo na garrafa (e mesmo pasteurizada),  e têm muitas outras cervejas em garrafa que se auto-denominam da mesma forma. Muito disso está baseado no conceito, meio esdrúxulo, que a cerveja não-pasteurizada é necessariamente chamada de chope, como se fossem dois produtos diferentes. Já li até que toda cerveja primeiro é chope, e apenas depois de pasteurizada passa a ser chamada de cerveja. Não sei de onde vieram essas ideias mas, para mim, toda bebida fermentada a base de malte pode ser chamada de cerveja. Recentemente li um comentário em um blog, onde o sujeito queria convencer a todos que "chope" indica um estilo específico de cerveja: aquela lager clara, leve, quase aguada, que costuma ser chamada vulgarmente de chope claro. Eu sei que os mais velhos e menos informados estão habituados àquele mundo ultrapassado, estável e bicolor, onde as variedades de cerveja se resumem à clara e a escura, o mesmo valendo para a patriarca da família, o chope, mas existem muito mais variedades do que isso, e você leitor, já deve saber muito bem disso.



Por todo país, o chope tradicional, lager, claro (e na maioria das vezes da marca Brahma) continua sendo servido como se essa fosse a única forma possível de chope. O seu serviço continua mantendo os mesmos velhos cacoetes, que infelizmente acabam sendo trazidos quando o profissional (o amigo chopeiro) vai trabalhar com outras variedades de chope. Além do barril armazenado à temperatura ambiente, hábitos como espumar o chope entornando parte da cerveja para uma bandeja, o uso de espátula para alinhar o colarinho, e principalmente o colarinho abundante são práticas do dia-a-dia, seja o chope Brahma, Bamberg ou qualquer outro.

Entre esses, há um tema que é sempre mais difícil de ser abordado, o intocável "colarinho". Mal compreendido por alguns, exageradamente glorificado por outros. O colarinho, formado pela espuma da cerveja, é obviamente essencial. Torna a experiencia tátil, visual e gustativa de beber um chope, mais agradável. Nunca deve ser negligenciado, mas o elogio ao colarinho não serve de desculpa para o exagero, que pode ser lucrativo ao comerciante que vende o chope, mas não para o consumidor. Afinal, a espuma é composta de um pouco de cerveja e muito gás,  assim o chope com colarinho enorme extrai menos cerveja do barril, que rende mais chopes. É muito comum por aí, ver chopes sendo servidos com colarinhos que tomam mais da metade do copo. Quando o colarinho baixa, fica evidente que tem menos cerveja no copo do que deveria, mas raramente o consumidor espera para ver.

Bar Leo e a escola do colarinho de 2/3


Por isso, lanço a campanha "No meu chope, colarinho de dois dedos". Sem negligenciar o querido colarinho, temos que estabelecer um limite de razoabilidade entre líquido e espuma para valorizar mais cada chope, afinal o preço do bom chope já está cada vez mais valorizado. Eu sei que dependendo do tamanho e formato, dois dedos representarão uma proporção diferente em relação ao volume do copo. Também sei que certos estilos de cerveja tradicionalmente permitem colarinhos maiores. Mas essa medida de dois dedos serve de parâmetro para a maioria dos chopes servidos por aí, Brahma ou outros, em calderetas ou canecas, de 350ml ou 500ml.
Entrando ou não na campanha, sugiro ao leitor que se sentir lesado por um colarinho como da foto acima, faça como eu: deixe o copo descansar na mesa por 2 minutos, e quando o colarinho exagerado baixar, peça para o garçom que complete de cerveja o seu copo.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Melhores de 2012 – Blog do BOB


Foram mais de cem votantes na enquete e ficou difícil achar o voto de cada um. Resolvi republicar o meu voto para facilitar aos visitantes de passagem e para quem ainda possa ter alguma curiosidade sobre as minhas preferências.



Melhores de 2012 – Blog do BOB
Foi divertido fazer essa lista proposta pelo Bob, assim como foi difícil. Nem vou tentar equilibrar a lista, desconsiderando a minha preferência pelas cervejas mais lupuladas. Esta é uma lista pessoal e permanentemente provisória, mas esse é o meu sentimento nesse 1º de janeiro de 2013 sobre as cervejas que bebi e tudo que aconteceu na cena cervejeira, no ano que passou.


1) MELHOR ALE NACIONAL
Cervejaria Nacional/Sinnatrah B’IPA – Tento acreditar que a melhor IPA será sempre a mais fresca, porém as americanas não me deixam. De toda forma, no caso das brasileiras tem funcionado assim. Nada melhor do que tomar uma IPA fabricada a 600 metros de casa, no dia do lançamento, e muito bem feita. Ótima IPA a moda inglesa, lupulagem mais rústica e sem o excesso de frutas cítricas. Seca no ponto certo, sem aquele dulçor a mais, comum a tantas IPAs brasileiras. Uma pena que era sazonal, quando voltei na Cervejaria Nacional, 15 dias depois, não tinha mais. Espero que volte logo!


2) MELHOR LAGER NACIONAL
Eisenbahn 5 anos – Não posso deixar de fora a cerveja que mais bebi em 2012. Pode não ser a cerveja mais redonda, às vezes o amargor dela parece um pouco áspero, mas quando está fresca, seu aroma é muito bom, uma mistura de caramelo com chá mate. Como a maior parte das cervejas Eisenbahn, o preço é muito acessível, tem a melhor relação custo/amargor do mercado brasileiro. Tenho sempre na minha geladeira.


3) MELHOR ALE IMPORTADA
Weihenstephaner Vitus - Primeira vez que provei foi quando conheci o bar Frangó, há alguns anos. No começo não dava muita bola para ela, assim como não dava bola para as cervejas de trigo em geral. Mas, com o passar do tempo, passei a admirá-la. Para mim, que sempre preferi as amargas, é uma cerveja suave, mas ao mesmo tempo, complexa e divertida, ainda mais com o teor alcoólico respeitável. No começo do ano tomei algumas meio apagadas, deviam estar mal tratadas as coitadas, mas com o novo lote, que chegou alguns meses atrás, tenho comprado cada vez mais. Se não bastasse ser ótima, é uma cerveja fácil de encontrar e com preço amigável.


4) MELHOR LAGER IMPORTADA
De Molen Donder & Bliksem – Merece a citação pela surpresa que foi ganhar uma garrafa dessa lager de rótulo discreto. Me disseram que era uma Bohemian Pilsener, mas me lembrou mais outra lager deliciosa do mar do norte, a Schiehallion. Aroma de lichia, bom amargor e muito refrescante.


5) MELHOR CHOPE
Way Pale Ale – Daquele tipo de chope que dá para tomar a noite inteira. Até o Beer Experience 2012, eu só tinha bebido a versão engarrafada, que é apenas uma sombra do que é esse chope. Aroma fresco cítrico, chope leve que mata a sede com personalidade. É uma pena que quase não chegue a São Paulo.


6) MELHOR BAR CERVEJEIRO
Empório Sagarana - Vila Madalena - Taí a contradição. Eu mesmo já havia escrito por aí que empório não é bar. Então que me aparece esse bar, instalado onde ficava uma velha marcenaria, perto de casa. Digo que é bar porque, apesar do nome, tem cara de bar, personalidade de bar. É um estabelecimento bem pequeno, de esquina. Não tem mesas, mas tem o balcão mais convidativo que conheço na cidade. Não tem cozinha, porém serve duas porções básicas para acompanhar cerveja, queijo e amendoim. Mas é um empório: tem mais de uma centena de rótulos de cerveja para beber lá ou levar, pois os preços das cervejas são tão bons quanto os das melhores lojas, bem abaixo do que praticam os bares cervejeiros da cidade.
Muitos já devem conhecer a matriz do Sagarana, na Lapa. A filial na Vila Madalena compartilha o mesmo estilo na decoração, com muita madeira, dando um ar rústico ao lugar, mas tem um diferencial que cativa a mim, os preços mais baixos.


7) MELHOR CERVEJA CASEIRA

(não bebi)


8) MELHOR CERVEJA DO ANO, AQUI OU LÁ FORA
Duvel Tripel Hop (Citra 2012) - Que cerveja incrível é essa! O melhor encontro entre a levedura belga e o lúpulo americano. Diferente de muitas das chamadas “Belgian IPAs” (é uma tripel com lúpulo americano, o rótulo já avisa), nesta cerveja a lupulagem assertiva e a levedura não brigam, eles dançam harmoniosamente, sem sobreposição.


9) RÓTULO MAIS BONITO DO ANO
Founders Centennial IPA – Dois anjos elevam ao céu o nome do lúpulo que dá alma a essa cerveja, a melhor IPA americana do mercado nacional. Não tem rótulo mais digno que esse.


10) NOVIDADE DO ANO
A chegada das Founders ao Brasil. Para mim a melhor cervejaria americana entre as que já importaram para o Brasil. Melhor ainda, chegaram com preço abaixo de muitas outras americanas. Nesse quesito só perdem para as Brooklyn, mas as cervejas da Founders dão um baile. Espero que o próximo lote mantenha o posicionamento no preço e aumente a variedade. Afinal o que é bom sempre pode melhorar.


11) MELHOR FATO CERVEJEIRO
A queda no preço das cervejas importadas é um fato a ser celebrado por nós consumidores. Hoje em dia, em São Paulo, é possível comprar ótimas cervejas importadas, americanas e belgas, por menos de R$10; as icônicas trapistas a partir de R$12; uma diversidade de boas cervejas alemãs a partir de R$10. Isso, num ano em que nossa moeda desvalorizou, demonstra que o mercado amadureceu, na base da concorrência.
O industrial brasileiro, fabricante de cerveja artesanal pode discordar que isso seja um bom fato cervejeiro, mas é ele quem tem que correr atrás do prejuízo. Para nós consumidores, o mais importante é a cerveja ser boa e acessível, seja fabricada aqui ou no exterior.


12) PIOR FATO CERVEJEIRO
Em 2012, definitivamente a cidade de São Paulo ficou para trás no mercado do chope artesanal. Tentei contar quantos bares abriram em São Paulo nesse ano, que ofereçam alguma variedade de chope artesanal para além do pilsen e do weiss, me lembrei de apenas um. Com esse, deve haver no máximo quatro casas com três torneiras de chope artesanal cada uma. Com maior variedade de chopes artesanais em São Paulo há apenas um bar.
Nunca vi nenhuma pesquisa a respeito, mas não é difícil imaginar que a cidade de São Paulo seja o maior mercado de cervejas artesanais e importadas do país. A maioria dos supermercados já as vendem, todos os bairros de classe média e alta têm empórios vendendo essas cervejas, mas chope artesanal, quase nada. Enquanto isso, acompanho a distância o crescimento desse mercado em Porto Alegre, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba. Todas essas cidades tiveram bares abertos em 2012 com boa oferta de chopes artesanais.
As vantagens de consumir chope são o preço e o frescor, por isso valorizo o chope artesanal brasileiro. Mas, se você quiser tomar chope importado em São Paulo, não há problema. Isso tem bastante...

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O mistério da vida útil de uma IPA

Cerveja velha tem que beber logo. Essas já eram!




Depois de fazer uma comparação informal entre uma IPA americana vencida ( a Sixpoint Bengali Tiger em lata) e algumas IPAs nacionais mais frescas (e preferir a vencida), quis saber um pouco mais sobre a vida útil da cerveja americana.

Escrevi um email para a cervejaria elogiando as cervejas e perguntando qual era a idade da cerveja que havia tomado. Esperei uma semana sem resposta, até que resolvi cobrar pela resposta via twitter. Funcionou! Consegui um pouco da atenção do Shane C. Walsh, presidente da Sixpoint Brewery. A princípio ele não quis responder a minha simples pergunta, mas com um pouco de insistência, ele me deu uma meia resposta. Achei melhor me satisfazer com isso e parar de importuná-lo.

Segundo Mr. Welsh, as cervejas enviadas pela Sixpoint ao Brasil são pasteurizadas antes do embarque, exceto a Resin. Ele também disse que as cervejas da Sixpoint tem entre 90 e 270 dias de vida útil, sem especificar qual é qual. De toda forma, seria cronologicamente impossível que as cervejas Sixpoint à venda no Brasil tenham apenas 90 dias entre o engarrafamento e o limite da validade.

Essa minha tentativa de obter uma informação básica sobre o produto da cervejaria demonstrou o resguardo que eles têm com uma informação que pode implicar na qualidade do produto. Eu entendo que essa pouca vontade de esclarecer abertamente um consumidor curioso é sinal claro da falta de transparência. Esse tipo de situação sempre me deixa com uma sensação de "tem coisa aí".

Abaixo segue a transcrição completa da pequena troca de mensagem que tive com chefe da cervejaria Sixpoint:



From: Fernando M Pacheco
Date: 28 de janeiro de 2013 09:23:00 BRST
To: "info@sixpoint.com"
Subject: Bengali Tiger life span

Hi,

Last week I bought a case of Bengali Tiger and a 4-pack of Resin in São Paulo, Brazil on a great discount. The beer expiration date is 1/29/2013 and although the beer is far from fresh it's still good beer. When compared to Brazilian IPAs it's still a fine IPA and I'm pleased by the price I've paid.

Now I'm really interested in comparing american IPAs avaliable in Brazil with the local IPAs. My question is: what is this Bengali's life span, or when was this batch brewed?

Thank you and keep up the great work.

Fernando M Pacheco

mostocritico.blogspot.com.br




From: "Shane C. Welch"
Date: 4 de fevereiro de 2013 12:58:55 BRST
To: Fernando M Pacheco
Subject: Re: Bengali Tiger life span

Hi Fernando -

We are happy to hear that your experience with our "out of code" beers in Brazil was still good.  That being said, in order for you to have a true comparison, we suggest that you try sampling "fresh" Sixpoint beers if you are going to compare and blog about it.

We have a fresh shipment going to Brazil very soon.  Should we alert you when it arrives?

cheers,

☮ ☮ ☮ ☮ ☮ ☮ 
Shane C. Welch
President
Sixpoint - Brooklyn - NYC 11231





From: Fernando M Pacheco
Date: 4 de fevereiro de 2013 14:22:58 BRST
To: "Shane C. Welch"
Subject: Re: Bengali Tiger life span

Hi Shane,

I have tried fresher Sixpoint beers before (Righteous, Bengali and Resin) and it was all good.

I think it's great that you label all your beer with a "best before" date, since dry-hopped beer are better when drunk fresh. But I'm still curious about its canning date. Can you tell me how old these beers are?

This information can help me evaluate how american canned beer can hold on  to Brazil's climate and distribution system, in comparison to brazilian "american style" beers.

Thank you!

Fernando M Pacheco

mostocritico.blogspot.com.br




From: "Shane C. Welch"
Date: 4 de fevereiro de 2013 14:25:20 BRST
To: Fernando M Pacheco 
Subject: Re: Bengali Tiger life span


Fernando -

Some of our beers are canned with as little as 90 days of code dating, while others have as many as 270.

All of the beers we send to Brazil, except for the Resin, have been pasteurized prior to packaging.

cheers

☮ ☮ ☮ ☮ ☮ ☮ 
Shane C. Welch
President
Sixpoint - Brooklyn - NYC 11231


terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Muita cerveja importada, pouco chope local


Feliz 2013


Passados 14 meses desde que iniciei este blog, aproveitei a virada de ano para refletir sobre minhas ideias e sentimentos como consumidor de boas cervejas e sobre tudo que já escrevi por aqui, no twitter e em outras redes. Acaba sendo irresistível também dar continuidade a alguns temas que surgiram na enquete Melhores de 2012, do Blog do Bob.

A oferta de boas cervejas brasileiras no mercado paulistano cresceu a passos bem lentos em 2012. Talvez essa percepção seja devido ao fato do mercado de cervejas importadas ter crescido em ritmo muito maior, mas de toda forma, para quem quer novidades locais, foi decepcionante. Alguns lançamentos barulhentos de cervejas high-end, podem ter dado a impressão que o ano tenha sido promissor, mas para o meu consumo do dia-a-dia, em termos de cervejas brasileiras, quase nada mudou. No máximo incorporei as cervejas da Way Beer no meu portfólio pessoal, mas nem sempre estão disponíveis e nem o preço entusiasma tanto.

Falando nisso, esse deve ser o maior motivo da minha falta de empolgação com as boas cervejas nacionais, a falta de competitividade com as importadas. Sempre me pareceu óbvio que as vantagens de consumir as cervejas locais (ou pelo menos domésticas) seriam o preço e o frescor, mas infelizmente em nenhum dos dois critérios elas têm superado a concorrência internacional. Sejam cervejas de estilos alemães, belgas ou americanos sempre encontro boas opções importadas com preços mais interessantes que as similares nacionais. Mas e o frescor? Acabo reconhecendo que, mesmo vindo chacoalhando em um navio desde o hemisfério norte, muitas vezes as cervejas importadas estão em estado de conservação similar as nacionais. Talvez nem seja exatamente isso, talvez, mesmo tendo perdido parte de suas qualidades, muitas cervejas importadas ainda estejam em pé de igualdade com as nacionais.

Veja as IPAs, por exemplo: no último fim de semana fiz um pequeno teste. Tomei três nacionais na sequência (Três Lobos, Karavelle e Colorado) e depois uma americana (Sixpoint). As nacionais tinham alguns poucos meses de garrafa e a americana, prestes a vencer. Se a americana já não era a mesma de meses atrás, ela ainda assim foi a experiência mais agradável, com mais drinkability e algum resquício de aroma cítrico. Nas nacionais prevaleceram dulçor e amanteigado, com um amargor no final para justificar a alcunha de IPA. Tá certo que a Sixpoint é em lata e isso pode ter ajudado na conservação, afinal também tem muita IPA americana a venda por aqui, que mesmo dentro da validade, parece mais com água de bateria. Mesmo assim, é decepcionante admitir que a IPA mais velha e viajada ainda seja melhor.

Deve ser mais fácil ser otimista bebendo cerveja no Brooklyn
Logo me vem a cabeça o post "Cerveja viva ou morta?". Esse post repercutiu muito na época, muitos criticaram, mas poucos disseram abertamente o motivo pelo qual as cervejas importadas são mais resistentes que as brasileiras. Muitas cervejas importadas não são pasteurizadas nem micro-filtradas, não ficam sob refrigeração todo o tempo e mesmo assim permanecem boas por tanto ou mais tempo que as nacionais pasteurizadas. Tem até quem duvide da honestidade das cervejarias estrangeiras, que afirmam não pasteurizar suas cervejas. Isso eu não sei, mas também não duvido...

E que dizer de bom do mercado paulistano de bons chopes brasileiros? Quase nada! Outro dia fiquei feliz por ter entrado em um novo bar perto de casa que tinha chope Dama IPA em sua única torneira. É com isso que tenho que me contentar, enquanto fico babando com a oferta de chopes em bares de Porto Alegre. A diferença é tanta que, no dia que o Bob publicou meu voto nos Melhores de 2012, teve dono de bar gaúcho que soberbamente desqualificou o meu voto para Melhor Bar: "Nem chope tem!". Nem só de torneiras se faz um bom bar, mas se lá no sul dá certo, qual é a dificuldade aqui em São Paulo então? Será que em São Paulo há menos aceitação do público ou os comerciantes que são mais conservadores? Arrisco dizer que é a segunda opção. Mas também tenho a impressão que mesmo os bares que tentaram trabalhar com boa variedade de chopes não trabalharam o produto direito. Nem é apenas pela falta de câmara fria (que já é falha grave), mas também o atendimento. Bar que serve diversos chopes tem que dar prioridade para eles. Não ajuda nada ter um carta imensa de cervejas em garrafa com preços melhores.

Minha perspectiva pessoal para 2013 é pessimista assim: Muita cerveja importada, pouco chope local.