segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Os bares que eu gosto em São Paulo, mesmo sem chope



Depois da minha crítica a quase ausência de bons chopes brasileiros nos bares de São Paulo, alguns leitores deste blog tentaram contra-argumentar. Falta de boas cervejas locais e desinteresse dos cervejarias pelo mercado paulistano foram alguns dos argumentos utilizados, mas não acho que sejam argumentos que se sustentem. Se fica difícil para as micro-cervejarias enviarem seus chopes para outros estados, como é que o Boteco Colarinho, do Rio de Janeiro, consegue servir mais chopes Colorado (de Ribeirão Preto/SP) do que qualquer bar de São Paulo? Não parece que a distância tenha atrapalhado nesse caso. Será que a Colorado tem pouco interesse em vender seus chopes aqui na capital, preferindo enviá-los para o Rio? Também me parece pouco provável... Minha hipótese para a baixíssima oferta de bons chopes brasileiros nas torneiras dos bares paulistanos (tendo o Empório Alto dos Pinheiros como maior exemplo) é bem outra. O público paulistano é que está mais interessado nos chopes importados do que nos nacionais. Por que deveria o proprietário do EAP ocupar 20 torneiras do seu bar com chopes nacionais, que custam na média R$9 o copo, se ele consegue encher o seu bar de clientes dispostos a pagar no mínimo R$15 por uma taça de chope importado? Não é ele, o empresário, quem tem que se preocupar com a ideologia do "apoie a cervejaria local", isso é melhor deixar para os blogueiros. Até porque não parece que a maioria dos clientes,em São Paulo, esteja preocupada com isso. Bares especializados em chopes importados em São Paulo, são um mercado promissor. Tem até o tal de The Ale House, que mal serve uma cerveja nacional, mas tem uma carta invejável de cervejas belgas e outras importadas. Diz a "rádio boato" que bares das marcas estrangeiras Brewdog e Paulaner devem abrir em breve na cidade, enquanto isso, a única cervejaria brasileira que parece interessada nessa proposta é a Karavelle, o que vai acrescentar muito pouco, na verdade.

IPA no balcão do Boca de Ouro

As oportunidades para beber bons chopes brasileiros em São Paulo são quase nulas, mas isso não quer dizer que eu não goste de nenhum bar paulistano. Na verdade tenho dois prediletos, que frequento com certa assiduidade. Não só por serem perto da minha casa, mas também por terem, além de ótimas cervejas (nada de chope), aquilo que eu mais espero de um bar: ambiente acolhedor e personalidade.
O bar Boca de Ouro e o Empório Sagarana - Vila Madalena tem algumas características em comum, mas personalidades bem distintas. Nenhum dos dois incorre no erro bem comum dos bares daqui de negligenciar o balcão. O Sagarana tem um ótimo balcão de madeira, onde o papo com os simpáticos atendentes ou algum outro bebedor empolgado pode render umas cervejas a mais. No Boca de Ouro o balcão, de fórmica preta, é levado ainda mais a sério, afinal o bar mal tem mesas. Para beber lá é no balcão e ponto final.
A atmosfera do Sagarana - Vila Madalena se beneficia muito bem do imóvel no qual está instalado, uma antiga marcenaria, com largas portas em sequência e pé-direito alto. Dentro, o ambiente faz jus a temática proposta desde a abertura da matriz, na Vila Romana. É fácil se sentir bebendo em um velho empório perdido, situado na praça matriz que alguma pequena cidade mineira. Apenas as geladeiras high-tech e as cervejas importadas, que enfeitam as prateleiras de madeira, quebram a reminiscência de algum boteco de outrora.
No Boca de Ouro a trilha sonora é elemento central na atmosfera do bar. Soul e rock'n'roll do anos 70 também aparecem discretamente na decoração, de forma coerente, completando o ambiente semelhante a algum bar que eu nunca fui em Nova Iorque. Porém essa coerência termina no cardápio de comidas, mais compatível com o nome do lugar. No Boca de Ouro tem bolovo, rabada,torresmo e sanduíche de pernil. Dentro dessas contradições, há o bar mais legal da cidade no momento: arquitetura e trilha sonora de bar "cool", nome e comidas de "pé sujo". Isso porque eu nem falei das bebidas: além de drinks clássicos, que nunca provei, tem uma carta de cervejas resumida mas que dá conta de satisfazer, seja qual for a sua preferência.
Tem só mais uma coisa em comum entre esses dois bares que deixei para o final. Não é um programa barato ir beber cerveja nesses lugares, exceto se você se contentar com Heineken. Não consigo beber mais do que duas cervejas nesses bares sem sair com um vazio imenso na minha carteira. Mas isso também não é diferente em nenhum outro bar que eu conheça em São Paulo.


Fachada do Empório Sagarana - Vila Madalena

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