terça-feira, 6 de março de 2012

Verão não é a estação da boa cerveja

Recentemente desenterrei um artigo do mestre americano Charlie Papazian que relata a péssima logística cervejeira no Brasil, tida como vilã da boa cerveja. Ele cita o hábito do comerciante, de gelar apenas as cervejas que pretende vender nas próximas 48 horas, como problemático. Manter barril de chope em temperatura ambiente até a hora de servir também não ajuda nada, segundo ele.



Domingo de sol, depois de uma partida de tenis até encarei uma Antarctica Original com os parceiros. Já não vejo graça nenhuma nessa cerveja, mas desta vez foi muito pior. Tinha gosto de cabo de guarda-chuva enrolado em papelão molhado, além de um leve azedume. Nem os conservantes conseguiram salvar a cerveja.

Neste verão ainda não tomei chope Bamberg, porém no verão passado das três vezes que tomei chope Bamberg Pilsen, em duas o chope estava passado. Barril de chope bom merece ser tratado com mais carinho do que 30ºC à sombra. Buscando na memória creio que praticamente todas as cervejas passadas, baleadas ou estragadas que já tomei foram durante a estação mais quente do ano. Coincidência ou não, foi nesta época que tomei diversas Colorado Indicas sem aroma, Karavelle Red Ale azeda e até as Antarctica Originais com gosto de papelão. Por vez ou outra o fabricante até tenta contornar a reclamação com uma cerveja nova, mas a verdade é que este problema ultrapassa o alcance das cervejarias.

Caminhões sem refrigeração que viajam durante horas sob o sol forte, além de depósitos abafados, podem detonar qualquer cerveja. Nem mesmo as IPAs, que segundo o bom marketing cervejeiro, deveriam sobreviver até a uma viagem para à Índia, aguentam o nosso verão. Tenho a impressão que falta carinho com o produto, mesmo daqueles que se dizem especialistas. Tem um famoso empório aqui de São Paulo que sempre deixa um carregamento de cervejas pegando mormaço na entrada da loja, só para chamar a atenção da clientela.

O verão tem sido um inimigo implacável da boa cerveja. Na estação de maior demanda é quando tenho tomado as piores cervejas. Nem aditivos químicos, nem pasteurização, nem "IPAzação" tem salvado as cervejas da deterioração. Tá na hora de distribuidores e comerciantes darem um passo adiante e tratarem a boa cerveja com o cuidado que ela merece!

4 comentários:

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    1. Eu vi uma foto do balcão do Biermarkt. Aquele balcão refrigerado é o que todo bar que vende chope deveria ter. O único bar que conheço em SP com balcão parecido chama-se Bar do Santa e vende apenas cervejas do portfólio da Schin. Não sei do EAP, mas Melograno, Bierboxx e Cerveja Gourmet não mantém os barris refrigerados.

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  2. A meu ver, existe um gargalo difícil de contornar no Brasil. A verdade, mais amarga que qualquer IPA, é que a cerveja é cara demais no Brasil. Acondicionamento adequado só a torna ainda mais cara e espanta ainda mais a clientela. Então o comerciante fica entre a cruz e a caldeirinha: ou ele tem uma estrutura show de bola que encarece demais o produto, ou ele vende mais barato e cuida de forma menos atenta do produto. O pior: nada garante que, se ele fizer tudo direitinho, a cerveja vai estar 100%, porque ela já pode ter vindo problemática da importadora ou da distribuidora.

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  3. No caso específico do Biermarkt, até onde eu sei, eles compram a cerveja direto do fabricante, sem passar por distribuidora. Por isso, conseguem manter um preço justo. Até as garrafas tem preço de loja no bar!

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