quinta-feira, 2 de maio de 2013

Será que estou bebendo demais? (Gastando demais tenho certeza que estou)

Foi muito legal a repercussão do post anterior, com a tabela comparativa do preço por litro de diversas boas cervejas que encontro a venda aqui na ZO paulistana. Muita gente me disse que passou a prestar mais atenção no preço que está pagando, no comparativo com outras similares, nacionais e importadas. Essa é a idéia! Também teve gente que considerou injusta a minha tabela. O Murilo, da Dum Cervejaria, me disse que acha injusto comparar o preço praticado pelas micro-cervejarias brasileiras com o preço das cervejas importadas, pois seriam realidades muito distintas. Para ele, as micro-cervejarias brasileiras trabalham com margens pequenas e não teriam condições de reduzi-las, enquanto isso as importadoras trabalham com margens bem maiores. Não ignoro as dificuldades dos pequenos produtores, mas entendo que todos disputam o mesmo mercado, são produtos similares e por isso devem ser comparados, de forma que fique mais claro para o consumidor a posição de cada produto dentro do mercado.

No meio do caminho surgiu uma pequena polêmica que contribuiu para esclarecer a visão que os empresários do setor tem do mercado brasileiro. Na ânsia de justificar a disparidade dos preços de suas cervejas nos mercados americanos e franceses na comparação com o brasileiro, o Marcelo Carneiro, da Cervejaria Colorado, sugeriu que o consumidor local, entendendo o peso do "custo Brasil" sobre o produtor brasileiro, deveria sim pagar mais caro como forma de incentivar a produção nacional e auxiliá-lo a atingir um volume maior de produção. Segundo ele, quem não for solidário e compreender essa situação, que vá beber Brahma. Um empresário de sucesso se colocando como vítima do "sistema" e apelando para um velho argumento ideológico para convencer o consumidor a pagar mais caro para viabilizar a sua produção, enquanto vende suas cervejas nos EUA por um terço do preço praticado aqui. Quase ninguém engoliu as justificativas para tamanha disparidade de preços, muito menos eu. Da minha parte, nada contra a Colorado, continuarei comprando a suas cervejas quando valer a pena.



Enquanto isso, eu não parei de consumir e dar minha pequena contribuição para fazer girar a roda cervejeira. Não foi por solidariedade a nenhum produtor ou comerciante, mas apenas porque adoro beber boa cerveja. O problema é descobrir que essa a pequena contribuição deixa uma sequela bem grande no meu orçamento. Superado o receio em encarar a realidade dos números, tabulei (com o auxílio do Untappd) as cervejas que (paguei e) consumi durante o mês de abril. Foram pouco mais de 17 litros de cerveja para cerca de R$430 gastos, algo em torno de R$25 por litro. Comparando com a tabela de preço por litro que divulguei no post anterior, tem muita boa cerveja com preço inferior a R$25/L, o problema é que nem sempre o melhor preço está ao meu alcance, sem falar que também gosto de beber em bares, onde o preço é bem maior..

Uma das frases de efeito mais usada por pregadores das Revolução Cervejeira é dizer que "É um caminho sem volta". De fato, depois que acostumei a beber apenas boas cervejas no dia a dia ficou muito difícil voltar a consumir as velhas cervejas aguadas por iniciativa própria, mesmo quando o bolso aperta. Até para Heineken criei uma certa resistência, aquele gosto de fruta verde me incomoda cada vez mais. Tendo abandonado a Heineken, tive que subir um degrau para estabelecer as cervejas-base do meu consumo doméstico: a Eisenbahn 5 anos. Ótima escolha, exceto por custar o dobro da anterior. Se não bastasse, a tentação é enorme quando se gosta de tudo que é estilo de cerveja, tem sempre mais cerveja do que eu consigo experimentar. Consigo evitar diversas tentações, mas sempre acabo seduzido por algum fetiche.

Para mim está claro que beber 17 litros por mês não é muito, muito mesmo é gastar R$430 no mês com algo tão prosaico, que é beber cerveja. Minha meta para os próximos meses é, sem diminuir o volume bebido, gastar bem menos, sem esmola ou ideologia.

fonte: http://joshchristie.hoppress.com

16 comentários:

  1. justo. e essa desculpa mto esfarrapada da colorado é vergonhosa.

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  2. Eu estava comentando isso no Twitter ontem: a mesma Colorado tem uma formação de preço onde a Vixnu 310ml custa R$ 14 e a de 600ml, R$16. Indefensável.

    Sem contar que tem muita gente brincando de ser empresário cervejeiro por aqui. Um bom caso é o da Bodebrown, que tem ótimas cervejas mas quase impossíveis de serem encontradas aqui no Rio porque os donos só fabricam quando querem.

    Ou o caso do playboy que reclama dos impostos mas vive viajando ao exterior...

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  3. fiquei horrorizado com essa declaração do marcelo "cultura cervejeira" carneiro... quanta presunção, um verdadeiro acinte. um moleque de 60 anos.
    abraço

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  4. Post muito pertinente, parabéns. Essa do Carneiro foi surreal.

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  5. No Brasil há isenção de impostos para quem exporta seus produtos o que justifica a disparidade de preços no exterior. Como nossos impostos são surreais, acaba criando essa situação onde o frete para fora, mais os impostos do pais importador não fazem frente ao custo da venda interna. Independente disso a declaração do Marcelo Carneiro é digna de pena. Um empresário de sucesso exigindo solidariedade dos consumidores é um grande desrespeito à nossa inteligência. Se não quer pagar o custo Brasil que se mande daqui ou lute para reduzir esse custo. Colocar isso na conta do consumidor sob o argumento pífio de solidariedade é que não dá.

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  6. Já respondi a questão do sucesso no Face do Bob nenhum preconceito contra o Mosto Crítico ,muito pelo contrário, mas estavam me atacando de todos os lados.Tenho 53 anos, trabalho com cerveja a 17 anos e ganho oito pratas por mes , não distribuo , quando sobra reinvisto na cervejaria e quando falta coloco do meu bolso.
    Acho isso um sucesso relativo, qualquer deputado ganha o dobro e muitos dos meus colegas também.

    Quero um dia ter escala para poder vender meu produto com a mesma qualidade e mais barato.Fora este ocasional destempero parei de reclamar do custo Brasil e dos impostos, nosso PIB tem falado melhor do que eu.
    Para mim o Brasil é um país que protege monopólios e descuida dos seus pequenos negócios.

    Gostaria que quem critica minhas declarações lesse um livro, que comprei no Craft Brewers Convention a alguns anos atrás, foi a primeira vez que comprei um livro de economia num congresso de cervejaria e eu achei muito importante.O livro não fala só de cervejarias mas da briga entre o pequeno e o grande negócio e de quanto o primeiro é importante para um país de economia saudável, segue aí o link do livro.

    http://www.amazon.com/Cornered-Monopoly-Capitalism-Economics-Destruction/dp/0470928565
    Tem quatro estrelas e meia na Amazon, então há muita gente que concorda com o que ele diz.

    Fico contente que o autor do blog compre nossas cervejas quando acha que vale a pena, gostaria que ele não me confundisse com um egoísta que só quer vender a sua marca. O que eu digo eu pratico , no meu bar tem muito mais cervejas nacionais do que importadas.A qualidade de algumas importadas pode ser maior que a nossa? certamente. O preço também mais baixo ? Bom por aí existem caminhos para isso que eu intuo mas não posso comprovar por isso me calo.O consumidor está certo de demandar preços menores e nós venderíamos muito mais se pudéssemos fazê-lo mas por enquanto não dá.

    Mas já estamos trabalhando nisto, sem choradeira mas com aumento de produção com a mesma ou melhor qualidade.

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    1. Marcelo,
      Eu sempre tive mais curiosidade e interesse em consumir cervejas fabricadas por micro cervejarias brasileiras do que importadas ou fabricadas por grandes corporações cervejeiras, mas em última instância, o critério que utilizo quando vou comprar cerveja é o custo/benefício. Como escrevi neste post, o meu gasto mensal com cerveja toma uma fatia bem maior do meu orçamento mensal do que seria responsável da minha parte, e olha que eu nem bebi demais. Eu abri publicamente o meu gasto mensal para tentar demonstrar que atualmente o preço das boas cervejas (sejam fabricadas por micro cervejarias brasileiras, sejam importadas) inviabiliza o seu consumo cotidiano por grande parte dos consumidores. Neste sentido, o termo “cervejas especiais” ainda faz muito sentido, pois a maioria dos consumidores só pode bebê-las em momentos especiais, não no dia a dia.
      Minha frustração com as micro cervejarias brasileiras se deve a falta de articulação visível para melhorar a situação tributária e outros gargalos que impactam diretamente no preço final de suas cervejas. Também raramente vejo estas cervejarias divulgando qualquer tipo de investimento em ampliação, apesar do mercado estar em crescimento. O que vejo são as cervejarias empenhadas em lançar novos produtos mais sofisticados e mais caros que os anteriores, perpetuando a posição de mercado de nicho.
      Me preocupo sim com a situação das micro cervejarias nacionais, tendo em vista o avanço das cervejas importadas, que ficam cada vez mais baratas, enquanto as cervejas brasileiras ficam mais caras. A perda de competitividade é evidente. Mas eu não vejo atualmente qualquer movimentação por parte dos produtores nacionais para reverter essa tendência.
      Fiquei muito satisfeito de você vir aqui no meu blog dar a sua opinião, ainda mais por afirmar que gostaria de tornar as suas cervejas mais acessíveis, vendendo-as por um preço menor. Espero que um dia isso se torne possível.

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    2. Marcelo, sou fan da Colorado. Gostaria de fazer algumas considerações sobre a marca. 01 - Vocês poderiam abrir uma franquia de bares (estilo pub) com drafts da Colorado (Vixnu, Indica, etc). Vejos bares da Devassa pipocando na cidade e vendendo uma cerveja de qualidade ainda muito baixa. 02 - Deveriam criar uma cerva de trigo mais marcante. 03 - Não sei como esta a logistica, mas SEMPRE vejo Demoiselle demais nas prateleiras e Indica de menos. 04 - Tem possibilidade do preço da Ithaca cair? Hoje só encontro na casa de 43-47 reais. Mais cara que um kit de 3 trapistas Rochefort (6-8-10), por exemplo. Abraço e torço muito pelo seu sucesso.

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  7. Eu só não entendo como a Colorado - já q estamos falando dela - pode custar às vezes mais caro que em Ribeirão que em cidades a 500km de distância. Já encontrei suas 4 tradicionais a R$11,50 cada no limite do oeste paulista, valor mais em conta que em muitos mercados da sua cidade natal. A própria loja poderia oferecer maiores descontos/brindes para as compras. R$10,40 (não sei se mudou o preço) na loja ainda é um valor que não empolga o consumidor.
    Não sou um expert em economia, mas não valeria arriscar em uma produção maior, melhoras na logística e então conseguir um custo final menor? Não faz muito sentido - sob o ponto de vista do consumidor - COMPRAR MAIS para esperar que o PREÇO CAIA. Mesmo pq, quando a procura aumenta o preço tende a aumentar, já que a oferta pode não acompanhar a demanda.

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  8. Parabéns.

    Eu que moro em Palmas - TO adicionando o valor do frete aí é que o preço vai as alturas...

    Com raras exceções alguns sites liberam o frete a partir de R$ 200 a R$ 300.

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  9. Obrigado Pacheco pela atitude sempre crítica porém construtiva, voce conta com o nosso respeito acredite. Obrigado Pedro, apesar de não me considerar playboy sua crítica é pertinente e te digo que a garrafa de 310 ml custa praticamente a mesma coisa que a 600 ml por isso a pouca diferença de preço entre as duas, esta foi uma embalagem desenvolvida exclusivamente para restaurantes mas acabou indo para o mercado em geral, falha nossa, em vez de se desagradar comigo ou com a cervejaria você poderia comprar a de 600 ml que tem um melhor custo benefício para a cervejaria e para você.
    Não compreendo a posição do que me qualifica de moleque de longe, sem me conhecer e protegido pelo anonimato, não vejo no que isso pode contribuir para a discussão sobre o preço da cerveja artesanal no Brasil.

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    1. Obrigado pelo esclarecimento, Marcelo. Na verdade não era a você que me referia quando uso o termo playboy. Já tenho comprado a Vixnu de 600ml.

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  10. A única coisa que eu não entendo e como alguém quer discutir/debater qualificando as pessoas com adjetivos pejorativos ? Todos podemos discordar das práticas comerciais de uma empresa e cobrar uma explicação como consumidores, mas se partirmos do pressuposto que o empresário e desonesto o debate é invalido. Quem se esconde no anonimato para tecer críticas não merece nem resposta. Porém sabendo do cidadão que é o Marcelo Carneiro não me surpreende a sua postura sempre educada e gentil. Amigos antes de compararmos preços entre Brasil e EUA devemos fazer uma análise minuciosa dos dois ambientes de negócio.

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  11. Parabéns Pacheco por sempre levantar debates importantes para a evolução do mercado nacional.

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  12. Cara, seu blog é excelente !
    Abraços, Sergio

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  13. As cerevjas nacionais estão caras mesmo na comparação com as gringas...mas a Colorado Indica continua ótima...eeeita cervejinha boa....pena que a Vixnu seja muito difícil de encontrar...Abraços, Sergio

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