terça-feira, 18 de setembro de 2012

A rede social zitófila




Recentemente um cervejeiro brasileiro dos mais medalhados perguntou no Twitter se valia a pena participar da rede social Untappd. Meu primeiro instinto foi avisá-lo que a participação é gratuita, mas logo percebi que não era esse "vale a pena" a que ele se referia. Provavelmente estava preocupado em não perder tempo com alguma futilidade virtual.

Para quem ainda não conhece, o Untappd é uma pequena rede social sobre cervejas. Ao modo Foursquare, os usuários fazem check-in da cerveja que estão bebendo. O legal do Untappd não é apenas fazer os amigos passarem vontade, mas a possibilidade de comentar sobre as cervejas que está tomando de forma simples e direta. Também ajuda muito na troca de informações sobre onde encontrar determinadas cervejas, os melhores preços, se determinado lote daquela importada já está meio caído, etc.

As cervejarias também podem, de forma gratuita, ter um perfil oficial no Untappd. Com isso elas tem acesso a estatísticas que ajudam a monitorar o padrão de consumo de suas cervejas na rede. É uma ferramenta de marketing de mão beijada, ainda mais porque, como qualquer rede social na internet, os consumidores brasileiros aderiram na maior empolgação e a base de usuários não para de crescer. A participação das cervejarias também ajuda os usuários, pois as cervejarias podem cuidar para que as informações relativas às suas cervejas estejam sempre atualizadas. Além disso, diferente de outras redes sociais, o Untappd abre um canal de diálogo entre produtor e consumidor diretamente focado nas cervejas sem memes ou outras distrações.

Peguei alguns números para ter uma ideia de como a maioria das micro-cervejarias brasileiras estão comendo mosca: as cervejas da Colorado já receberam 2735 check-ins no Untappd, sem que a cervejaria tenha um perfil oficial na rede; a cerveja Wäls Petroleum já recebeu 485 check-ins, sem que a cervejaria tenha um perfil oficial na rede; as cervejas da Bamberg já receberam só este mês 204 check-ins, sem que a cervejaria tenha um perfil oficial na rede.

Por outro lado, algumas cervejarias brasileiras mais atentas já assumiram seus perfis oficiais na rede social zitófila. Quase mil usuários do Untappd já deram check-in em cervejas da Eisenbahn, que tem perfil oficial. Outras cervejarias como Bodebrown, Küd, Nacional e 2Cabeças não perderam tanto tempo e também participam do Untappd. O que falta para as outras?


P.S. - Para quem quiser me adicionar, o perfil é mostocritico.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Mas quem lê rótulos?

Eu sempre gostei de ler rótulo de todo produto que consumo, e já aprendi muita coisa. Por que todos os doces de leite do mercado tem que ter aroma de baunilha? Não sei e não me agrada. Com cervejas também aprendi logo que "corante caramelo" não é só para dar cor à cerveja. Alguém entende porque a Bohemia Escura e a Baden Baden 1999 precisam levar caramelo na receita?

Já escrevi bastante sobre as falcatruas na validade de cervejas importadas, mas esse não é o único problema que se encontra nos rótulos. Diversas importadoras desconsideram a importância de informar ao consumidor sobre os ingredientes usados na fabricação da cerveja. Provavelmente, para esses importadores, a exigência do rótulo traduzido é uma mera formalidade, sem qualquer benefício ao consumidor. O consumidor que quiser conhecer os ingredientes de algumas cervejas importadas podera ser induzido ao engano pelo rótulo traduzido. Nem adianta saber ler no idioma do rótulo original, pois a tradução é muitas vezes colada sobre a lista original de ingredientes.




Quem ler apenas o rótulo traduzido da Young's Double Chocolate Stout pode achar que a referência ao chocolate no nome da cerveja é apenas uma sugestão de sabor. Na lista de ingredientes em português não consta nem chocolate nem a essência de chocolate, usados na fabricação da cerveja.
Quem tiver coragem de experimentar a Belzebuth 11,8% pode querer saber como é fabricada aquela bomba. Ela contém aqueles mesmos adjuntos e aditivos presentes nas mais ordinárias cervejas brasileiras, como corante caramelo e conservante. Mas esses ingredientes são ignorados na lista de ingredientes citados no rótulo da importadora.
Na Anderson Valley Winter Solstice, o rótulo frontal logo entrega "ale with natural flavor added". Porém, segundo o selo da importadora, essa cerveja poderia muito bem seguir a lei de pureza alemã. Em português se lê apenas os ingredientes "água, malte, lúpulo e levedura". Cadê o tempero natural?

Não adianta, informação confiável não é o forte das importadoras de cerveja...