quinta-feira, 31 de maio de 2012

A Cervejaria do Bairro

Me considero um afortunado, pois em meu bairro há uma cervejaria, melhor ainda um brewpub: fabrica e serve no mesmo estabelecimento. Chama-se Cervejaria Nacional e completou 1 ano de funcionamento esta semana.


Foto: Mario Rodrigues

Já fui lá tantas vezes que perdi a conta. Eu gosto muito da Cervejaria Nacional por dois motivos: É perto e tem boa cerveja. Isso já é o suficiente para me satisfazer, pois defeitos lá tem vários. A entrada não é muito receptiva. Tem que fazer uma ficha com nome completo e telefone para retirar a comanda, antes de subir a escada em direção ao bar. Quanta burocracia por uma cerveja! O serviço, muito tímido e inseguro, demorou a engrenar, atualmente está bem melhor, mas ainda me faz sentir como se estivesse no Applebee's. Falta mais descontração e perguntar ao cliente, antes do cardápio ou qualquer outra coisa, se quer pedir uma cerveja. O ambiente é legal, apesar de muito formal e do péssimo hábito de abaixarem as luzes no meio da noite e acenderem velas nas mesas. Esse clima romântico é coisa de piano-bar, não de brewpub.

E tem as cervejas. Não são as melhores, nem são fantásticas, mas são muito boas e isso já uma grande coisa. O preço não empolga, com pint de IPA por R$16. Por esse valor tem bar vendendo garrafa de Colorado Indica, mas na maioria das vezes ela não está muito fresca, foi pasteurizada e tal. Entre tomar a melhor IPA velha e uma boa IPA fresca, fico com a segunda. Na cervejaria do bairro a cerveja percorre no máximo uns 50 metros desde o fermentador até o seu copo e para aliviar o bolso do vizinho assíduo tem promoção com chope em dobro de segunda à sexta.

Um ano atrás o colega Roberto Fonseca escreveu no Estadão e em seu blog sobre os dois novos brewpubs que iriam abrir em São Paulo, Cervejaria Nacional e Cervejaria Corsário (essa história eu conto outro dia), e  levantou o histórico dos brewpubs na cidade. Passado um ano, parece que ao menos a Cervejaria Nacional veio para ficar. Espero que a recente diminuição nas horas de funcionamento não seja um mau sinal, apenas um ajuste, pois ainda pretendo tomar muitos pints por lá.

terça-feira, 22 de maio de 2012

O supermercado vai matar a loja de cerveja?

Os supermercados de São Paulo entraram de vez no ramo das cervejas boas. Na seção, que antes era disputada entre "lager mega A" vs. "lager mega B", agora o destaque está nos rótulos pouco conhecidos das ales artesanais e diversas importadas de qualidade. Os supermercados não entraram nessa onda só para se aproveitar da imagem sofisticada desse produto, estão realmente querendo disputar mercado. Os preços praticados pelos supermercados nas cervejas importadas e nas artesanais são, na grande maioria das vezes, melhores que qualquer empório ou loja on-line.

Um dia a gente chega lá. (foto: Brewtality)


Eu compro cerveja quase sempre em supermercados e os daqui da região não tem deixado a desejar na seleção de artesanais e importadas. Alguns meses atrás o Blog do BOB fez um censo completo do setor, que continua melhorando a cada semana.

Nós, consumidores, nos beneficiamos com isso, cerveja boa, mais fácil de encontrar e com bons preços. Quem não deve estar gostando são os donos de empórios e lojas de cerveja. Antes eles tinham o chamariz da exclusividade, agora estão em uma situação parecida com a do dono do mercadinho da esquina. Como resistir ao poder das corporações?

Eu sei que comprar cervejas em lojas especializadas tem suas vantagens. A seleção é ainda melhor que os melhores supermercados, o serviço é bem mais atencioso e, por vezes, especializado. Porém, cerveja boa é um troço caro e sei que muitos, como eu, não podem se dar ao luxo de abrir mão do melhor preço.

O situação já não é nada animadora para as lojas de cerveja, e tem um elo da cadeia cervejeira que tem jogado contra: distribuidoras e importadoras.Outro dia o dono de uma loja de cerveja me contou que havia comprado umas caixas de Guinness Draught e pagado R$5 a unidade, que seria um bom preço. Para a sua surpresa alguns dias depois ele descobre que o supermercado mais próximo de sua loja estava vendendo o mesmo produto pelo preço cobrado pelo importador. Com as cervejas nacionais não era muito diferente. Ele pagava no distribuidor pelas garrafas 600ml de cerveja Colorado quase o mesmo preço cobrado em uma outra rede de supermercados.

(Foto:Tim Boyle)


O poder econômico das grandes corporações varejistas é colossal e muitos produtores e distribuidores devem estar dispostos às maiores loucuras (leia-se descontos e bonificações) para entrar com seus produtos em uma dessas redes. Afinal, uma vez fazendo parte do portfólio de um supermercado, grandes encomendas virão. Mas esses intermediários não podem ignorar a importância dos pequenos e jogar contra. Primeiro porque ingratidão é feio e por muito tempo o mercado de cervejas boas se limitava às pequenas lojas, era desses comerciantes que distribuidores e importadores dependiam. Segundo e mais importante é reconhecer a importância que essas lojas ainda tem no mercado, principalmente pela difusão da cultura cervejeira. Na loja cervejeira consumidor compra com mais atenção e está mais aberto a provar novos produtos. A fidelização do consumidor passa, na maioria das vezes, pelos empórios.

A sobrevivência dos pequenos comerciantes de cerveja depende muito da capacidade que terão de se manterem competitivos num mercado muito sensível à variação de preços. Dá para ser competitivo quando distribuidor e supermercado praticam o mesmo preço?